O emprego que persiste através das revoluções

Mayara Machado
5 min readApr 29, 2018

Começamos a ouvir os discursos sobre o desemprego gerado pela robotização, pessoas assustadas culpando o desenvolvimento tecnológico, a piada sobre cientistas e engenheiros que projetam um futuro onde pessoas serão dispensadas para exercerem trabalho, pessoas incluindo eles mesmos, alguns chamam isso de escolhas erradas, outros apenas as vêem como pessoas sem visão.

Passamos por duas revoluções ( a Industrial e a Tecnológica), e é analisando o comportamento da sociedade perante esses dois momentos que poderemos tirar algumas prospecções acerca do que viveremos no futuro.

A primeira leva de substituição de empregos

Analisaremos então o meio rural, que por muitos anos foi a principal fonte de renda para centenas de famílias. Nos Estados Unidos foi observado um declínio de cerca de 90% de produtores entre os anos 1870 e 1970, no Brasil também ocorreu um processo semelhante ao qual chamamos de êxodo rural.

A mecanização dos campos gerou mais eficiência na produção agrícola ao mesmo tempo que gerou desempregos, e um fluxo de migração das pessoas que antes eram ocupadas com trabalhos rurais e agora se encontravam dispensadas. Isso ocorreu dado o fato de que é necessário uma quantidade menor de pessoas para gerir os trabalhos desenvolvidos pelas máquinas, assim como também houve um reforço no filtro usado para seleção de pessoas um grau maior de conhecimento para ocupar determinadas funções. Então um dos pontos que a mecanização acabou trazendo foi uma elevação na busca de profissionais com grau de instrução mais especializado.

A segunda leva de substituição de empregos

A crescente urbanização que foi resultante do processo migratório da população rural em busca de melhores oportunidades de emprego, unido a então recente revolução industrial contribuiu com a formação das cidades e posteriormente metrópoles. Essa nova conjuctura trouxe uma remodelação da estrutura social, onde o capital ganhou destaque e ideiais sobre as relações sociais e sobre a ideia do emprego ganharam forças.

A questão é que estamos, como espécie, em constante evolução e um dos aspectos evolutivos do ser humano é justamente o de criar e remodelar o ambiente em que ele está inserido, desse modo é em meados da década de 1970 que ocorre a revolução tecnológica. Essa revolução foi caracterizada pelo desenvolvimento tecnológico, pela informação e pela robotização, nos Estados Unidos por exemplo, foi notado uma diminuição de cerca de 70% da participação de mão de obra humana em serviços industriais no intervalo de 1950 a 2010.

Ou seja, é uma tendência em países mais desenvolvidos a ocorrência cada vez mais da inserção de máquinas realizando trabalho que antes eram realizadas por humanos, o que vem trazendo para as empresas um ganho no valor de custo/benefício visto que máquinas conseguem realizar as mesmas funções que necessitariam um número comparativamente maior de pessoas e concluem essas tarefas de forma mais eficiente, muitas vezes custando menos do que seria necessário para manter o número correlativo de funcionários naquela função.

A terceira leva de substituição de empregos?

Se analisarmos os dados citados anteriormente nos deparamos com uma possibilidade que muitos encaram como assustadora. Da primeira revolução rural, tivemos 100 anos no processo de mudança entre deixar de ser uma sociedade rural e nos tornar uma sociedade principalmente industrial, e do estabelecimento do homem no meio industrial. Então novamente tivemos 60 anos de processo de estabelecimento da revolução tecnólogica que trouxe mecanismos automatizados para execução de tarefas mais repetitivas. Nesse espectro, podemos então supor que nos encaminhamos para uma nova onda revolucionária por volta da década de 2030.

São essas prospecções que tem causado desconforto para alguns, será que nós estamos nos encaminhando para mais um momento de restruturação no mercado de trabalho? Quais seriam os impactos causados por essa nova onda?

De fato o nosso primeiro pensamento seria sobre o índice de desemprego que seriam resultantes de uma nova onda de substituição em massa, como a tecnologia tem avançado exponencialmente, um estudo promovido pela Universidade de Oxford revela que nos Estados Unidos cerca de quase 50% dos empregos poderão ser extintos devido a evolução tecnológica nas próximas décadas. Uma situação não muito diferente do 54% encontrados como resultado numa pesquisa realizada pelo Instituto Bruegel referentes a situação na Europa nas próximas décadas, o que nos leva a crer que será um fenômeno alcançado em todo o globo, ainda que para algumas partes leve mais tempo por conta do status do desenvolvimento tecnológico.

Inteligência artificial é ‘boa para o mundo’, diz robô ultrarrealista. Fonte: Mundo Bit

Problema do capital, o que faremos?

Se haverá um número reduzido de pessoas empregadas, suas renda será prejudicada diminuindo seu potencial de consumir e numa sociedade estruturada no consumo isso é um problema. Vejamos, o mercado funciona com a oferta de mão de trabalho por parte do trabalhador, que em troca recebe um valor e que com esse valor ele consome, aplicando novamente no mercado e fazendo o ciclo continuar. Se o consumidor não tiver renda, seu poder de consumo se torna comprometido e portanto quebra o ciclo de alimentação do mercado, e aí nós teremos um problema.

Uma das ideias para evitar essa quebra do ciclo seria a redistribuição dos lucros como uma éspecie de participação dos lucros, ou até mesmo uma bolsa-auxílio para aqueles que forem deixados para trás por conta da nova onda, ainda que este não seja um dos melhores cenários.

Podemos visualizar essa situação também de outra forma. Essa não seria a primeira vez no qual a sociedade enfrenta uma reestruturação, e quando comparamos as condições de trabalho, salários e benefícios podemos ver o quanto nós evoluímos muito desde a era rural e o quanto de benefícios essas inovações não trouxeram para a nossa estrutura atual.

Reinvenção

O ponto que não podemos estar deixando de enxergar por aqui é justamente o fato de que assim como já passamos por algo similar e nos reinventamos, podemos fazer isso novamente. A princípio os algoritmos das máquinas precisam se basear em uma análise de dados e de sequência de uma mesma ocorrência, ou seja, máquinas não lidam bem com imprevistos e situações as quais elas não foram expostas anteriormente o que vejamos só é uma especialidade humana.

As mudanças causam novas situações as quais máquinas não estão preparadas, o futuro automatizado reserva vagas para aqueles que tenha criatividade e jogo de cintura para novas situações, e talvez esse seja o maior ponto sobre o que o futuro nos aguarda. Uma profissão pode não ser eterna mas nossa capacidade de lidar com adversidades parece ser algo inerente a espécie humana e portanto irá nos acompanhar ao longo das gerações. O presente como conhecemos pode estar no início do fim, mas isso não é necessariamente uma coisa negativa para aqueles que tem a habilidade de se reinventar.

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Mayara Machado

I’m very passionate about programming and currently I do it mostly using python. I’m also a pythonist.